SÃO PAULO - Pioneira na produção de etanol apenas à base de
milho no Brasil, a FS Bioenergia, joint venture entre a Summit Agricultural
Group e a Tapajós Participações (ex-Fiagril), deu largada oficial ontem à
construção de sua segunda usina de biocombustível em Mato Grosso. O
investimento — que totalizará pouco mais de R$ 1 bilhão, como já informou o
Valor — será “fatiado” em duas etapas, e a primeira parte da unidade —
localizada em Sorriso — deve começar a entregar etanol ao mercado em fevereiro
de 2020.
Quando entrar em operação, a usina deve se beneficiar do
primeiro ano do programa RenovaBio, que pagará produtores de biocombustível
pela redução das emissões de gás carbônico.
A primeira fase da construção demandará um aporte de R$ 700
milhões e permitirá a produção de até 265 milhões de litros de etanol por ano,
a partir do processamento de 630 mil toneladas de milho. A segunda etapa, que
será iniciada em um momento ainda não definido, duplicará a capacidade da
usina, para 530 milhões de litros anuais. Essa fase exigirá um investimento de
R$ 350 milhões.
“Nossa ideia de antecipar a construção com uma primeira fase
é para acessar o mercado mais cedo. Construir a obra toda de uma vez só tomaria
um tempo mais longo”, explica Rafael Abud, CEO da companhia.
A construção de uma nova usina de etanol em Mato Grosso
adiciona capacidade de produção em um Estado que já produz mais biocombustível
do que consome. Atualmente, apenas o excedente da FS Bioenergia é vendido à
região Norte, e a perspectiva é começar a vender os novos volumes ao Pará,
ainda pouco atendido, segundo o executivo.
A FS Bioenergia entrou no segmento de etanol à base de milho
em 2017, com produção em usina construída em Lucas do Rio Verde (MT). A
unidade, que utiliza apenas milho como matéria-prima (tecnologia conhecida como
“full”, diferente das usinas “flex”, que também usam cana como matéria-prima),
está sendo duplicada atualmente. A obra deve ficar pronta em fevereiro de 2019.
Os preparativos para a construção da nova unidade já movimenta
os negócios de milho na região de Sorriso. Como essa usina começará a operar em
uma época de entressafra do milho em Mato Grosso, a FS Bioenergia está fechando
contratos de compra do grão que será colhido na próxima safrinha (inverno) e
será estocado até que a unidade comece a operar.
A aquisição antecipada de matéria-prima passará a fazer
parte da estratégia comercial da companhia, que também estuda outras ações para
estreitar o relacionamento com os produtores. Segundo Abud, a FS Bioenergia
está avaliando fornecer insumos em troca do milho (barter) e, eventualmente,
até pagar um incentivo aos produtores que fornecerem o grão para a produção do
biocombustível.
“O objetivo é apoiar o produtor a ser mais produtivo. Há um
caminho enorme para ganho de produtividade em Mato Grosso”, afirma o executivo.
Atualmente, a produtividade do milho safrinha no Estado está em torno de 100
sacas por hectare. “Os mais tecnificados já produzem 150 sacas por hectare, mas
nos Estados Unidos já se produz perto de 200 sacas por hectare”, compara.
Para estimular o aumento da produtividade agrícola, a
companhia reservará área em seu terreno em Sorriso para cultivos experimentais
de milho e para demonstrações de novas tecnologias, como insumos e material
genético.
A nova usina também dependerá do fornecimento de cavaco de
eucalipto, que serve de biomassa para a cogeração de energia que abastece a
unidade. A companhia está realizando parcerias com produtores do meio-oeste
mato-grossense para o plantio de 30 mil hectares de eucalipto, que poderão
abastecer de biomassa suas duas usinas no Estado.
Até o momento, foram feitas parcerias para o plantio de 5
mil hectares, boa parte dos quais já foi semeada, afirma Abud. Para garantir o
financiamento desse cultivo, a FS Bioenergia realizou um convênio com o
Sicredi, que poderá financiar os futuros produtores de eucalipto da região, e
agora está buscando outras instituições financeiras que também possam oferecer
crédito para o eucalipto no Estado.
Por Camila Souza Ramos